Doce de Letras

A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. "Fernando Pessoa"

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Local: Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil

Sou professora de literatura , super sensível e ama Por Que amar

22 fevereiro 2011

ALMA WELT

ALMA WELT




SONETOS ERÓTICOS DA ALMA



(para serem lidos em seqüência)



Recomendação:

Esta série de Sonetos da Alma, sob o signo do Mito de Eros e Psiqué deve ser lida em seqüência, pois assim forma uma estória quase linear, de solidão, encontro, paixão, entrega, desvario, perda, depressão, reconciliação e alegria finais.





Prólogo

1

Altos sonhos, crepúsculo dourado,

Amor mais que perfeito em pleno ar.

Como um lenço de pérolas orlado,

Sonho de sonhos, do vago imaginar.



Outrora me bastava ser querida

Depois a franca sede me tomou

Quis ser tocada, ainda que ferida,

O bicho homem na selva me acuou



Entreguei o selo e o sangue, numa mesa

De um lauto jantar, literalmente,

E o ser que me tomou, em forma tesa



Era dentro de mim, em minha mente,

O lado oposto que minha alma sente,

O bicho de quem mesma sou a presa.





A Presa

2

Homem, mulher, em mim e sobre mim

Deitam comigo em forma e sensações

O amplo peito e seus róseos botões

Não importa, que os quero sempre assim



Cheios de dedos, toques, umidades,

Doces projéteis, línguas cobiçosas

Permeando minha carne em suas mucosas

Gosmas, cheiros, sumos, cavidades.



Agora viro-me, as ancas para o ar

Projeto os orifícios que não vejo,

Quero dar-me, oferecer e ensejar:



Entregar-me como pasto, ou carne exposta

Aos olhos ferozes do desejo

Do macho de quem sou presa suposta.







A Lança

3

Vem meu amor, e desce com teu peso

Pressionando assim as minhas tetas

A curva do meu ventre, o púbis teso

Encontrando também as franjas pretas



Que orlam tua lança tão vermelha

Aos olhos que captam num relance

As tuas manobras tensas, nesse lance

De penetrar-me como carne numa grelha.



Quero sentir-me assim, de forma crua,

Bicho, animal, que assim me vejo

Aniquilar-me, a mim, em meu desejo.



Fêmea ancestral, comida, assim varada,

Que pense o mundo, se disso não me pejo

Que louca sou, ou puta, ou desvairada!





Psiqué

4

Caminho, assim nua, pela casa

Às escuras, qual castelo, sem as tochas;

Bato às portas, esbarrando minhas coxas

Procuro o leito onde o meigo monstro jaza.



Pressinto na penumbra o grande leito

Com a sombra vaga que descansa

Sem contornos, que nem mesmo a sua lança

Faz-me ver, e aquele amplo peito...



Não tenho uma lanterna, ou mesmo lume

Sutil, que me permita conferir

As formas que começo a pressentir



E logo sou colhida como a laço

Engolfada, cercada pelo abraço,

Afundando, como em lago de betume.





Hermafrodita

5

Tenho dentro em mim teu grande falo,

Guardando-o assim sofregamente.

Percebo que preenchida, assim, me calo

E deixo-me vagar em minha mente



Por espaços ancestrais onde fui una

Plena e rica, em glória e harmonia

Com a divindade que punia

E que agora o instinto coaduna.



Hermes e Afrodite, ou mesmo Artêmis

Em ti projeto o lado que sobrou

Quando partida fui, perdendo o pênis,



Restando tão somente este pouquinho

Que teima em querer o que faltou

E busca completar-se, tão sozinho...







O Galgo e a Raposa

6

Penetra-me profundo, enquanto gemes

E falas porcaria em meus ouvidos.

Agarra-me, morda-me, o que temes?

Nesta cama só cercada de gemidos



Cessa o bem e a lei dos oprimidos.

Dominando tudo em nosso leito

Aqui somos bandidos assumidos,

A nós mesmos permitindo o malfeito



E se sangue fluir ( pode ocorrer )

A dor foi consentida, eu te garanto,

Teremos lágrimas, decerto, não o pranto



Pois é certo que a dor e o prazer

Correm juntos, como galgo, e feito

O coração, raposa, em nosso peito.







Paraíso

7

Penetra-me, assim, como num porre.

Queria dar-me como essas rameiras,

Se elas dessem de verdade, por inteiras,

Coisa que ( na certa) não ocorre.



Então quero ser mártir, sem juízo,

Louca e santa, na carne torturada,

Em êxtase, buscando o paraíso

Na mesma carne, assim martirizada.



Para que minha alma então não saia

Preencha-me assim, assim, o orifício

E essa ânsia de amar nunca se esvaia.



Quero explodir de fúria de prazer

E se então meu sangue rubro escorrer,

Celebrarás, como padre em santo ofício!





La Strega

8

Estou ficando louca de desejo

De amar e em seus braços perder-me.

Preciso, já percebo, é conter-me:

Não sobrará mais nada, agora vejo,



Se me entrego, deste modo, por inteiro

Que o coração, sendo carne, nunca mente...

Devo poupar-me, ou dar-me loucamente

Como louca que não só rasga dinheiro?



Será, pois, uma questão de grau de entrega?

Já não sei mais, não tenho a lucidez,

Perdida de paixão, como uma strega



Quero voar montada no seu falo,

Embora isso pareça insensatez,

É assim que em meu delírio devo amá-lo.





Mel

9

Vem, meu amor, assim, já bem ereto

Sem cerimônia, seguro, suficiente

Abraça-me, tocando-me direto

Sentindo aquele anel já saliente



Depois passa teus dedos no meu púbis

E vai descendo, seguindo a sua curva

Para encontrar as cores dos rubis

Que se mostram enquanto a vista não se turva



Abre-me os lábios, como os abro, em arregaço

Se quiseres beijá-los docemente

Sentirás o seu perfume, levemente



E colhendo com a língua o mel que faço,

Estarás pronto, então, para o arremesso,

Que ao teu louco dardo me ofereço.





Baile de Máscaras

10

Ponhamos nossas máscaras depressa

( à meia noite não devo conhecê-lo ),

Não me conheces, o baile já começa

E meu rosto mascarado é como um selo.



O coração palpita, ingenuamente,

Mas cheio de malícia em se ocultar,

Espera o desvelar, pois ele mente

Fingindo-se ocupado no bailar.



E chegas, então, que só te espero

No meio desses pares indiscretos

Que fazem o seu jogo em lero-lero.



Como é belo o ritual, cheio de anseios,

Entre amantes que camuflam seus aspectos

Para o pronto desnudar-se, sem receios!





O Lago

11

Ponho-me nua, eterna novidade

Pr’ os teus olhos, que assim me queres ver

Não consigo ocultar minha ansiedade

E tu não consegues te conter.



Tremes tanto ao tocar-me, também tremo

Como se inverno fosse, sobre um lago

Se tocas o meu ventre como um remo

Singras minhas águas como afago,



Na superfície que ondula logo em círculos

Buscando minhas margens tão distantes

Que põem a superfície como antes



De cada novo toque cuidadoso

Entre um e outro gemido do meu gozo

Nesta viagem que reata os nossos vínculos!





A Barca

12

O meu amor deixou-me, triste noite,

Meu corpo torturado pela ausência

Crispa-se em ondas dolorosas como açoite

Enquanto toco-me, sentindo minha carência.



Contorço-me, nua, no meu leito

Introduzo-me objetos e meus dedos

Abro-me toda, rasgo dentro o peito,

Como Pandora abro a caixa dos meus medos.



Estou louca, estou só, estou faminta

Enxergo minha beleza em desespero

Embora o meu espelho ainda não minta,



E me revolta ser ainda assim tão bela,

À deriva, linda barca, tanto esmero

A que faltam, no entanto, remo e vela.





Alegria

13

Voltou o meu amor, voltou, pasmem vocês!

E com ele a alegria, montanhas de CDs

Eu nua pela casa, o sexo molhado,

Ele de roupão, e o circo bem armado.



Ó dias de euforia, ó noites de paixão!

Como dizer, como contar, ó meus leitores?

Orgasmos barulhentos, vivos estertores,

Penetrações vibrantes, riso e lassidão.



Tenho as ancas vivas, o lábio entumecido,

Os bicos dos meus seios apontam retesados;

Meu ânus latejando, um tanto intrometido...



Quero cantar, gritar, o amor tinha partido,

Voltou e me deseja, estamos renovados,

Eros, Psiqué... enfim reconciliados!!